A criação de Brasília está ligada a uma profecia de São João Bosco, que anunciara sua construção no coração do país, a 15 graus de latitude sul. José Bonifácio já tinha intenções de levar a capital para o coração do país e o local do distrito federal passou a ser assinalado com um círculo nos mapas, sem que sua demarcação física fosse realizada. Um projeto de lei chegou a ser incluído na constituição federal, mas o desafio longínquo e romântico não inspirava os governantes.
Entretanto, o ideal desenvolvimentista de Juscelino Kubitschek tornou o projeto como prioridade do governo, a meta-síntese do Plano de Metas, em cumprimento ainda a uma promessa de campanha assumida em Jataí (GO). JK conseguiu ver sancionada a lei que concedia autorização ao congresso para que o executivo tomasse providências para a construção da nova capital. O presidente garantia que passaria o posto a seu sucessor já na nova capital. A primeira delas foi a criação da Novacap, Companhia Urbanizadora da Nova Capital, presidida por Israel Pinheiro.
Pinheiro estava na sua terceira legislatura como deputado federal e já havia apresentado uma emenda constitucional na qual delimitava a localização do Distrito Federal, em parte de Minas Gerais e Goiás. A proposta foi rejeitada, o que não o desencorajou de defender a ideia. Em 1956 foi convidado por JK para assumir a presidência da companhia e nomeado primeiro prefeito de Brasília, em 1960.
Três questões norteavam a criação de Brasília: o impacto de uma concepção de urbanismo aliado a uma arquitetura arrojada, originalidade e independência na captação de recursos, e urgência na construção de estradas. Este último ponto era considerado decisivo para que a nova capital não ficasse isolada no centro do país. Foram construídos 13,17 mil quilômetros de rodovias, de forma que a capital ficasse ligada a regiões dos quatro pontos cardeais. Destes, foram pavimentados 7,2 mil quilômetros, o que fez com que a malha asfaltada do país se expandisse 300%.
Esta foi a época dos grandes desbravadores da área central, entre eles, o engenheiro Bernardo Saião, que morreu em acidente de trabalho na Belém-Brasília. A multiplicação de rodovias acompanhou a evolução da indústria automobilística na época, em uma política voltada para a fixação de populações no interior do país. Desse modo, reduzia-se também o êxodo rural para a região sudeste.
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Na mesma linha, a nova capital deveria unir os dois lados do Brasil da época, um deles litorâneo, produtivo e moderno e o outro interiorano, estagnado socialmente e economicamente. Três mil operários foram atraídos para o centro do país na construção da nova capital. Eles eram conhecidos como “candangos”, trabalhando em jornadas sem fim até o dia da inauguração, em 21 de abril de 1960, quando a nova capital contou com a presença de mais de 100 mil visitantes.
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O traçado das ruas de Brasília obedece ao plano piloto, criado pelo arquiteto Lúcio Costa, é integrado por um sistema de ruas e avenidas largas cujos cruzamentos principais foram construídos em dois níveis. Junto ao plano piloto, surgiram as cidades-satélites para abrigar a demanda populacional do município. Hoje, são 2,6 milhões de habitantes em todo o conjunto, uma população heterogênea, oriunda de todas as partes do país, que até hoje mantém traços diferenciados entre si. Os brasilienses só começaram a surgir anos mais tarde, após a fixação das famílias no novo território.
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A pesar do final da construção ter se dado ainda no governo JK, os serviços só foram completamente transferidos para a capital no governo militar dos anos 70. Antes disso, até mesmo a construção de cidades satélites ficou paralisada.
Excelente pesquisa e trabalho. Parabéns!
ResponderExcluirConsuelo Freire