domingo, 15 de maio de 2011

3.2. A Indústria de Automóveis

As primeiras unidades de veículos fabricados no Brasil foram a Romi-Isetta, em 1956 e a DKW Vemaguete, uma caminhonete “station wagon”, no mesmo ano. Esses dois veículos disputam o título de carro mais antigo fabricado no país. Entretando, discute-se se a pequena Romi-Isetta seria, de fato, um automóvel. A DKW tinha linhas traseiras quadradas, que nada tinham a ver com a frente arredondada, herdada dos DKW fabricados na Alemanha, pela Auto-Union. Não havia muitas alternativas quanto à cor da pintura nem do estofamento. Mas a perua andava bem e surpreendia pelo desempenho e economia.

O motor era de dois tempos e três cilindros, com tração dianteira. Apenas 900 cm3 e 40CV. No entanto, sua aceleração e sua velocidade máxima eram razoavelmente boas para a época. O câmbio tinha quatro marchas para a frente e a estabilidade era satisfatória. O consumo de gasolina – que não era levado em conta naqueles tempos de fartura de petróleo – era surpreendentemente baixo. O grande inconveniente era a necessidade de se misturar o óleo à gasolina, no próprio tanque. Além disso, o cheiro exalado pela furgoneta  fosse simplesmente horrível.

Em 1958, a DKW colocou no mercado mais um produto de fabricação nacional, o Belcar, um sedan quatro portas. Os modelos dos primeiros anos tinham suas portas da frente que se abriam da parte frontal para o centro do veículo e acabaram apelidados de “deixa vê” por exporem damas que vestiam saias na hora de desembarcarem do automóvel. A mesma montadora ainda fabricou um jipe e o Fissore, outro sedan, de duas portas e desenho mais atual, com acabamento mais luxuoso. Algumas unidades dos DKW ostentavam logotipo dos quatro anéis unidos, semelhante ao dos Audi de hoje, criado após a fusão de quatro empresas na Europa, em que a própria DKW fazia parte.

Em 1959 a alemã Volkswagen começou a produção de automóveis em São Bernardo do Campo. O primeiro modelo a sair da fábrica foi a Kombi, em produção até hoje ainda com as mesmas características de quando foi lançada. Uma delas foi o uso do mesmo motor refrigerado a ar até meados dos anos 2000. Hoje ela é movida por um propulsor 1.4 totalflex, para atender as normas antipoluição. O modelo é o mais antigo em fabricação no país, mas já tem data para deixar a linha de montagem. A Volkswagen terá de parar a fabricação quando entrar em vigor a obrigatoriedade da instalação de Air Bags nos automóveis nacionais, já aprovada no congresso, pois a coluna de direção, praticamente na vertical, impossibilita a aplicação do equipamento.

Em seguida, a Volks iniciou ainda a fabricação do VW Sedan, ou seja, o Fusca. Uma criação realizada na Europa, em parceria com Ferdinand Porsche e que se tornou referência mundial de carro popular, com produção em várias partes do mundo. O último modelo foi fabricado até os anos 2000 no México. No Brasil, foi produzido até 1986 e voltou a sair da linha de montagem com um incentivo para carros populares, oferecido pelo presidente Itamar Franco em 1993. Saiu de linha em 1996.

GM e Ford também se movimentaram para aproveitarem os estímulos oferecidos pelo governo JK e passaram a fabricar componentes necessários para a construção dos veículos. Antes disso, todas as peças eram importadas e aqui apenas se fazia a montagem final dos automóveis. Entre os lançamentos da GM nessa época estão a Chevrolet Brasil, uma “station wagon” de grande porte, com altura elevada, e ainda uma picape do mesmo modelo. Os dois carros eram veículos utilitários. O primeiro sedan veio apenas em 1968, com a fabricação do Opala.

Willis e Simca também se instalaram no Brasil na mesma época e trouxeram modelos de sucesso na Europa. Os Simca, de origem francesa, eram belos sedans, com motores potentes, versões esportivas mas tiveram certa dificuldade de enfrentar as ruas e estradas sem pavimento da época e constantemente apresentaram problemas para seus proprietários. Já os Willis tinham mecânica mais confiável e sedan de grande porte “Aero-Willis” se tornou sonho de consumo. O Gordini foi objeto de desejo dos jovens da época e o Jeep conquistou uma legião de fãs pela capacidade de transpor qualquer tipo de terreno. As forças armadas mantinham frotas desses automóveis e muitos deles rodam até hoje.

A criação da indústria de automóveis se destacou e influenciou o orgulho dos brasileiros. A produção de carros era vista como um símbolo da riqueza nacional, muito embora tenha sido o mais equivocado dos projetos. As indústrias que chegaram no país estavam interessadas apenas nos incentivos oferecidos pelo governo e mantinham uma produção exclusivamente voltada para o mercado interno. A elas, não interessava tornar o Brasil um país de exportação de veículos, já que as matrizes americanas e européias já atendiam essa demanda.

O crescimento então era destorcido e só foi corrigido em parte no final dos anos 90, quando os produtos construídos no Brasil foram exportados para países do terceiro mundo por estarem adaptados a realidade de ruas e estradas deste tipo de economia. O Brasil encerra o milênio com a produção anual de quase um milhão de novos automóveis, sem que fossem feitos investimentos em ruas e estradas na mesma proporção e junto a isso, surgiram problemas de desemprego com o fechamento de fábricas e exigência de trabalhadores qualificados. 

No início, este cenário era imprevisível. A indústria automobilística do ABC paulista chegou a manter 140 mil empregados e incentivou a criação de fábricas de auto-peças, gerando progresso em cidades pobres como São Bernardo do Campo. Até então só a GM tinha um parque industrial completo. A Ford, como dito anteriormente, se resumia a um galpão para montagem, a partir de peças e componentes encaixotados, fabricados nos Estados Unidos.

São Bernardo do Campo deixou de ser uma cidade dormitório e teve seu centro deslocado para as margens da Via Anchieta, onde se concentraram as montadoras. Surgiu uma classe média, com moradores detentores de poder de consumo, geradores de impostos, o que permitiu a evolução da cidade em relação aos municípios vizinhos. A mão-de-obra especializada, por esse fator, torno-se politizada e o município foi o berço das reivindicações sindicais.

Esse progresso não saiu barato aos cofres do governo, já que a fabricação de peças dependia da expansão da indústria de base, mas que não interessava às grandes multinacionais. Com isso, a União teve de contrair empréstimos e aumentar a emissão de papel-moeda. Isso gerou inflação nos anos seguintes. O crescimento das cidades também gerou demanda por infra-estrutura, custeada pelo governo federal.

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