A pesar da gestão JK ter se dado em um período de mais calmaria política, ele não escapou das críticas, sobretudo após o início da pressão inflacionária e da estagnação no desenvolvimento. A oposição ganhou força sobretudo com a criação de Brasília, obra que consumiu boa parte dos recursos públicos e gerou uma série de desconfianças no destino das verbas, seja por superfaturamento ou pelo uso indevido. Entretanto, a governabilidade não chegou a ser abalada, pois o partido do presidente tinha maioria no parlamento.
O Plano de Metas foi apontado como algo generoso, segundo economistas, classificado como a mais sólida decisão consistente em prol da industrialização do país, de forma irreversível. Nessa época, foi possível fazer investimentos que alcançaram até 7,6% do PIB brasileiro. Entretanto, parte desses recursos foram obtidos em empréstimos de outros países e dos fundos internacionais de financiamento. Aí surgiu a dívida externa do Brasil, que consumiu boa parte da arrecadação ao longo dos anos 70, 80 e 90.
Como já foi apontado neste trabalho, a penetração de indústrias multinacionais foi maciça, através dos incentivos oferecidos pelo governo. Num primeiro momento isso foi positivo, mas logo se percebeu que o controle de setores importantes da produção estavam sob o comando de grupos estrangeiros. Entre os quais a produção de veículos, que levaram a falência a Fábrica Nacional de Motores e, anos mais tarde, a Gurgel, duas indústrias criadas por capital nacional. No setor de cigarros e eletricidade, o controle externo chegou a 90% e no de energia, 70%.
Com isso, os postos de comando e as decisões estavam fora do país, o que acarretou num desequilíbrio de pagamentos sobretudo nas remessas dos lucros dessas empresas para fora do país, em valores mais altos do que aqueles investidos na construção das intalações. Além disso, muitos brasileiros se viram obrigados a pagar royalties pelo uso de tecnologias patenteadas, muitas já ultrapassadas nos países de origem.
Entre as heranças menos desejadas do Plano de Metas está o surgimento da inflação, a partir da emissão destinada a cobrir investimentos governamentais, falta de contrapartida fiscal, falta de um esquema especial para a sustentação financeira. O governo chegou a lançar um programa de estabilização monetária, que deveria cobrir o período 1958-1959, mas este acabou sendo insuficiente pela estratégia da época: elevação espetacular dos meios de pagamentos e os pesados déficits orçamentários.
O Programa de Estabilização tentou frear os gastos públicos e o aumento da receita, mas foi ineficaz. O governo preferia o caminho da política desenvolvimentista, em detrimento das relações com instituições financeiras como o FMI, que pretendia disciplinar os investimentos nos programas como condição para recomendar financiamentos do exterior.
O Produto Interno Bruto do país cresceu 7% ao ano e a taxa de renda per capta aumentou quatro vezes mais que os países da América Latina. Entretanto, as exportações não atingiram o mesmo valor do endividamento externo, principalmente pela política adotada pelas indústrias que vieram para cá, a fim de voltar a produção apenas para o mercado interno. Com isso, o presidente acabou em meio à montanhas de juros cobrados pelo capital externo, o mesmo que lhe havia proporcionado o desenvolvimento. A taxa de inflação ficou cada vez maior e a moeda brasileira, o Cruzeiro, estava cada vez mais desvalorizada no mercado mundial.
A sorte de Juscelino Kubitschek foi que esses problemas só vieram a tona ao final de seu mandato, o que lhe garantiu a imagem de político visionário, responsável pelo desenvolvimento do país. Nesse sentido, é possível apontar que o Brasil colocou a “carroça na frente dos cavalos”, ao buscar um desenvolvimento industrial, antes de garantir educação e solidificar as estruturas existentes. Entre elas, a educação dos brasileiros. O analfabetismo alcançava quase metade da população da época e o acesso a cursos universitários só era possível a uma parcela pequena da população.
Além disso, o Plano de Metas precisaria conter um fomento maior às iniciativas de produção tomadas pelos próprios brasileiros, com indústrias nacionais, de origem nacional. Ao priorizar incentivos para o capital estrangeiro, favoreceu-se o domínio e o monopólio de grandes multinacionais sobre o consumo da população. Como resultado disso, as riquezas acumuladas acabaram voltando aos países de origem das empresas.
Por fim, é possível concluir que Juscelino estava correto ao apontar que o Brasil precisaria ser industrializado, mas não a qualquer custo, consumindo uma quantidade exacerbada de recursos. Dinheiro esse que o Brasil não possuía e gerou dívidas impagáveis ao longo das décadas seguintes. Além disso, o Plano de Industrialização também se revelou insustentável, já que por mais que a produção aumentasse, o acúmulo de capital gerado ia para fora do país.